Entrevista Salin Valimamede
O economista aponta os principais sectores de actividade económica que oferecem vantagens competitivas aos investidores. Todavia, a descentralização das decisões é, como explica, um factor determinante do crescimento regional equilibrado.
EX- Geralmente, quando se aborda a diversificação económica em Angola, difunde-se a ideia de que tudo é “diversificável”. Concorda com este pensamento?
VS- Quando se fala de diversificação económica, pretende-se, essencialmente, destacar a importância de haver vários sectores da economia, e não apenas alguns, a contribuírem para o crescimento económico de um país e, dessa forma, não correr o risco de estar dependente da performance de um ou dois sectores da economia, como é o caso da maior parte dos países produtores de petróleo.
Por outro lado, devemos ter em consideração que o processo de diversificação económica, ou seja, a promoção e o crescimento de outros sectores da economia, é um processo de médio longo/prazo e que depende fundamentalmente da capacidade de canalizar investimentos públicos e privados para esses sectores.
Na sua visão, que sectores realmente oferecem vantagens competitivas aos investidores?
Angola é um país que tem vários sectores da economia que podem ser promovidos, pois oferece um potencial enorme em termos de recursos naturais, que vai desde a indústria extractiva e mineira (petróleo, gás, diamantes, ferro e outros minérios) à pesca, à agricultura e pecuária, floresta e madeira, entre outros.
Verifico também um grande potencial nos sectores dos serviços, como os sectores financeiros (banca e seguradoras), distribuidoras alimentares e saúde. Por outro lado, devido à guerra civil, Angola necessita de reabilitar e construir as suas infra-estruturas ao longo do País, o que será ainda o grande desafio nos próximos anos. Por isso, os sectores relacionados com a construção civil e a habitação são sectores com grande potencial em Angola nos próximos anos.
Incluiria o turismo nas prioridades de diversificação nacional?
Com certeza. Há um enorme potencial do sector turístico em vários pontos do País, devido à sua diversidade e beleza natural.
Em relação à indústria? Que segmentos lhe parecem possuir vantagens competitivas?
Vejo um grande potencial de imediato nas indústrias agro-alimentar, de materiais de construção, de madeira e pasta de papel.
Na sua opinião, por que razão não se aposta na diversificação da produção/exploração mineira?
Fará todo o sentido apostar na diversificação de produção nos sectores onde o País tem vantagens competitivas e que podem ser sectores de exportação. Vejo, com grande optimismo, essa aposta na diversificação de produção de outras indústrias mineiras, em especial, o ferro!
Como avalia o facto de o investimento privado manter uma tendência de preferências do litoral?
Em qualquer tipo de investimento empresarial, os factores de risco do retorno são aqueles que mais influenciam a decisão de onde investir. Neste caso, como as províncias do litoral são as mais desenvolvidas em termos de infra-estruturas e, por outro lado, por os centros de decisões estarem de facto nessas províncias, em especial em Luanda, é natural que os investidores optem por dar preferência em investir nas províncias do litoral. O que demonstra que existe a necessidade de capacitar (infra-estruturas, recursos humanos, descentralizar as decisões da capital, etc.) as províncias do interior para atrair mais capital e investimento privado.
De que forma se pode inverter esta tendência?
Apostar nas infra-estruturas, na educação, na saúde e apostar na descentralização das decisões são factores fundamentais para alterar essa tendência.
O que pensa sobre o facto de o Governo privilegiar as subvenções a preços e não à produção?
Penso que hoje em dia o Governo está cada vez mais empenhado em promover os sectores produtivos, e certamente que a questão das subvenções dos preços terá uma tendência de ser reduzida ao longo do tempo.