Foi realizado pelo INE, entre 2008 e 2009, um inquérito para se recolherem informações quanto à situação económica e social da população em Angola..
Os seus resultados foram publicamente apresentados em meados de 2010, com a promessa de se divulgarem, mais tarde, mas em tempo útil, informações mais finas sobre a verdade da condição social em Angola. Verdade que, para os cientistas sociais e para os analistas políticos, vai passar por uma análise rigorosa da metodologia adoptada.
A situação social em Angola pode ser, genericamente, caracterizada como de significativa desigualdade. Esta percepção não é apenas dos angolanos, sendo partilhada por muitas agências internacionais que lidam com as questões relacionadas com a pobreza, a distribuição dos rendimentos e as condições de sustentabilidade das melhorias que possam ocorrer em alguns indicadores relacionados com a educação, a saúde e a habitação.
Existem dois problemas relacionados com a sustentabilidade das melhorias sociais:
O primeiro relaciona-se com o excessivo peso do Estado na economia e com a sua atitude paterna lista sobre a sociedade. Já se criou a cultura de dependência do Estado, no sentido de que tudo tem de ser de sua responsabilidade. Inclusiva mente, os empresários nacionais também pensam deste modo. A questão que se coloca é: enquanto as receitas do petróleo forem as que são, o Estado pode chegar a muito lado. Mas e quando se reduzirem?
• O segundo é o da distribuição do rendimento. Enquanto o rendimento
Médio mensal das classes mais pobres for o que é, vai ser impossível garantir o pagamento de certos serviços sociais, condição essencial para se ter do seu provimento uma atitude de maior racional idade na sua utilização.
Durante a IV Semana Social da CEAST realizada em Luanda entre 11 e 15 de Janeiro ficou patente em algumas das intervenções que o País sofre duma pobreza absoluta profunda e extensa, não compaginável com a cifra oficial.
Em Luanda, toda a gente se cruza, diariamente, com situações evidentes de pobreza que não se contêm nos 37% do IBEP. Como dizia a poetisa, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
Uma das notas mais salientes do IBEP é a profunda diferença entre o mundo rural e o mundo urbano. Qualquer que seja o atributo de análise, a economia e a sociedade rural colocam-se a muitos pontos de distância da sociedade urbana, onde os comportamentos de novo-riquismo se manifestam duma forma contundente.
Do ponto de vista dos rendimentos médios mensais – na generalidade muito baixos (a média para o país era de 8767 Kz, cerca de 100 USO), fazendo supor que no inquérito não foram consideradas as classes de rendimento elevado, em torno dos 5000 USO por mês – as condições de” vida urbanas valem quase duas vezes as do mundo rural.
É ao nível das classes menos pobres que as diferenças de rendimento entre os dois mundos são mais significativas, chegando aos 200% para o 5.º quintil, a assinalar, justamente, que as grandes fortunas estão nas cidades, como, de resto, o atestam os vários sinais exteriores de riqueza.
O País iguala-se na pobreza, pois para os 20% mais pobres a diferença entre a média nacional e a média rural é de apenas 15%. Nos 20% menos pobres, o País está 58,9% acima da média rural. A igualização na pobreza aumenta à medida que se baixa no escalão de rendimento. As diferenças regionais são mais assinaláveis para os escalões mais elevados de rendimento, o que pode significar que a actividade agrícola é, essencialmente, exercida pelos pobres.
Se se atentar no nível das receitas médias mensais difundidas pelo IBEP, as diferenças entre os 20% mais pobres e os 20% menos pobres são abissais, conforme se pode comprovar pelos valores da tabela seguinte.
Têm, portanto, base efectiva. e evidências empíricas comprovadas as preocupações que algumas instituições angolanas, como a Igreja Católica e outras igrejas cristãs, sempre manifestaram quanto às tremendas desigualdades sociais no País.
Mas a este problema acrescenta-se o do real valor económico dos rendimentos médios mensais apurados pelo IBEP: qual o seu efectivo poder de compra, perante um sistema nacional de preços desequilibrado e onde as diferenças relativas entre si não traduzem o seu real valor económico?
Um rendimento médio mensal dos 20% mais pobres em 2008/2009 de 1414 Kz, equivalente a 18,1 USO à taxa de câmbio de 2008, que quantidade de bens de consumo básico pode adquirir?
Porém, a matéria relacionada com a expressão monetária do rendimento médio mensal não se coloca apenas nos 20% mais pobres. É geral. Por exemplo, os 20% menos pobres auferiram, em média nacional, 26 035 Kz de rendimento, equivalentes a 334 USO por mês (11 USO por dia). ‘Este valor é incompaginável com os comportamentos e as condições de vida ostentados por uma camada restrita da população.
Em conclusão, o País tem um problema grave por resolver quanto aos baixos salários praticados: é a baixa produtividade do trabalho que o justifica. Ou são os baixos salários que explicam a baixa produtividade?