Praticamente todos os anos, depois dos festejos da quadra festiva os produtos muito consumidos como o arroz, a massa e o óleo alimentar registam aumentos significativos, comportando-se, desta forma, durante quase todo o ano, segundo os economistas abordados pelo AGORA.
O litro de leite pasteurizado da Lactiangol, por exemplo, em quase todas as lojas de Luanda passou de 145 kz para quase 200 kz. O mesmo ocorre com o feijão, que em Dezembro já esteve a 700 kz, oscilando actualmente entre 250 a 500 kz e a fuba de milho a 100kz.
Nos armazéns da Arosfran os perecíveis também sofreram uma pressão para cima depois dos rumores, dando conta da suposta associação do patrão deste grupo empresarial a redes terroristas libaneses, uma caixa de coxas de frango, que antes custava 3000 kz, sofreu um incremento de quase 50% passando para cerca de 4000 mil kz.
O aumento dos preços deriva da fraca produção interna, porque o país depende em mais de 80% das importações. A este nível cabe ao Executivo a tomada de medidas para a inversão do curso negativo das coisas, um exercício que, porém, não tem sido bem sucedido.
Aliás, no caso dos perecíveis, a Frescangol, que devia associar-se à cadeia de distribuição de bens alimentares no interior do país para reforçar a capacidade do Entreposto Aduaneiro de Angola (Eaa), há muito perdeu as rédeas, confundindo-se o seu papel no mercado com a venda esporádica de repolho no largo da Independência, principalmente aos fins de semana.
No primeiro curso de iniciação para os comerciantes grossistas e retalhistas o director das Alfândegas, Sílvio Burity, havia referido que o Governo (agora Executivo) estaria a redefinir a actuação destas empresas em que a Frescangol também passaria a funcionar como entreposto para os produtos perecíveis e a Sociang seria a distribuidora de mercadorias no interior.
Esta estratégia fracassou e o Programa de Reestruturação do Sistema de Logística e de Distribuição de Produtos Essenciais à População (Presild) que se seguiu a estas iniciativas está igualmente a “flutuar” num mercado claramente dominado por estrangeiros com destaque para os libaneses, malianos e senegaleses, passando estes a ditar os preços, sem concorrência.
Fiscalização
No caso dos alimentos, as autoridades deveriam impor uma “apertada” fiscalização. Isto não acontece e cada um impõe a sua regra, havendo casos em que um mesmo produto chega a ter preços muito diferentes em vários estabelecimentos comerciais.
O director das alfândegas reconheceu, ainda, que havendo concorrência reduzirão os monopólios e a especulação.
O executivo previa seleccionar 20 a 25 produtos básicos e destes oito a 10 seriam comercializados, via Eaa, e os restantes importados pelos demais grossistas. “ A existência de um número reduzido de grandes importadores de bens essenciais tem permitido constantes especulações”, defende ainda Sílvio Burity.
Pensava-se em armazenar em quantidades razoáveis para abastecer regularmente o mercado arroz, açúcar, leite condensado, chá, óleo alimentar, frango congelado, conservas de carne e peixe, material escolar, de escritório construção civil.
Mantiveram-se dúvidas quanto à inclusão do feijão catarina da fuba de milho e da farinha de trigo, por se tratar de produtos que, apesar de terem um volume de importação significativo, os produtores nacionais poderiam, a curto prazo, assegurar o abastecimento do mercado.
Quem deve regular os preços dos produtos importados é o Estado que jamais conseguiu fazê-lo por causa da invasão dos estrangeiros. Contudo, no caso do milho e seus derivados, hortaliças e frutas poderíamos recorrer à cintura verde que já produz a preços razoáveis, faltando, contudo, o escoamento e as cadeias de comercialização.
“É preciso evitar que o produtor saia do interior com a sua mercadoria por cima de uma carrinha alugada e venha comercializar o repolho, cenoura ou tomate numa esquina qualquer de Luanda. Cabe às autoridades resolver o problema da cadeia de comercialização, praticamente inexistente”, disse o economista A. Chipembele, adicionando que na lista dos principais importadores nunca constaram empresas angolanas, demonstrando as autoridades falta de confiança nos empresários nacionais.
Pelo Mundo.
O preço da comida atingiu o record mundial em Janeiro último, mas o Brasil não tem culpa sobre este movimento. A avaliação é do ministro brasileiro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sobre o papel do país nos negócios agrícolas no
Planeta.
“O produtor brasileiro foi penalizado durante anos. Só que somos eficientes e produzimos com custo baixo, colocando o produto no mercado a preço justo. E isso cria problemas para aquelas agriculturas altamente subsidiadas nos países ricos”, referiu, notando que a alta do preço da comida é resultado de vários factores entre eles a especulação financeira.
O feijão e o arroz, a base da alimentação do brasileiro, estão abaixo do preço mínimo. Nos países ricos como nos Estados Unidos, a maioria dos produtos agrícolas apenas torna-se competitivo no mercado mundial porque os Governos dão dinheiro para que eles produzam a preços menores – são os subsídios.
A oferta de alimentos baixa em relação à procura havendo melhoria da renda e da qualidade de vida. Isto ocorre quando os trabalhadores têm salários compatíveis à altura dos preços. Mas por vezes se este movimento não for acompanhado de uma boa produção interna gera invariavelmente a ruptura dos stocks, aumentando os preços e daí para as convulsões sociais é um passo.
Estimativas da FAO são preocupantes
Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) revelou, recentemente, que em Janeiro os preços dos alimentos no mercado global atingiram o seu maior patamar.
O índice de preços subiu pelo sétimo mês consecutivo e ficou em 230,7 pontos, quando em Dezembro do ano transacto o mesmo indicador fixou-se em 223,1 pontos.
A economista da FAO, Abdotreza Abbassian, estima que a pressão sobre os preços vai aumentar.
“Esses preços altos provavelmente vão persistir nos próximos meses, representando uma grande preocupação, principalmente para os países pobres, que podem ter problemas para financiar as importações dos alimentos de outros países e para famílias de baixa renda, que gastam boa parte da sua renda com comida”, alertou.
Por seu turno, o secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (Ocde) reconheceu que a alta dos preços dos produtos essenciais e das matérias-primass básicas (commodities) ameaça o crescimento económico global.