A conversa da passada sexta foi torneada por concepções do mundo da cultura e das artes plásticas, num ambiente bastante relaxado onde o convidado Hildebrando Melo expôs a sua opinião sobre temas quentes relacionados a pintura e com a sociedade Angolana. Hildebrando considera-se um homem intelectual Africano, natural do Huambo e um acérrimo admirador da cultura Tchokwe (Lundas), particularmente da tradição “Sona”. Fala sem ter papas na língua, defende os seus pontos de vista relativamente às sociedades actuais deste mundo assimétrico, e de forma crítica (parece não ser estar muito impressionado com o neoliberalismo) discutiu na Development Workshop “a Pintura e o seu Impacto e valor na Sociedade”.
Numa primeira parte da sua apresentação, Hildebrando disserta pelas principais correntes e estilos de pintura da Humanidade, desde do período pós-Renascentista até ao actual período pós-moderno. Talvez imbuído pelo universo sensorial artístico pós-moderno, o artista plástico realça o carácter estético da arte plástica como fonte de inspiração para o comportamento humano, influenciando a postura corporal, tal como os maneirismos até á moda. Da maneabilidade e fluidez abstracta da pintura jorra o manancial para as outras formas de expressão artística humana, incluindo a música e a arquitectura, para pasmo dos arquitectos presentes. Especialmente patente na filosofia de Bauman, a fluidez desta época faz com que o tempo e espaço se reduzam a fragmentos, onde os objectos artísticos entram em correlações dicotómicas ocupando proporções quer gigantescas, quer ínfimas em tons de cores, quer frias quer quentes. Daí que Melo expressa a existência um certo egoísmo na pintura moderna, fruto do amadurecimento do livre arbítrio, enraizado no Renascimento e resultante de mutações constantes do super-ego, onde a individualidade predomina sobre o colectivo, exemplo do pintor Velasquez que se auto-retratou em um dos seus quadros.
Assim como o hiper-realismo, efeito da ilusão e da propensão de expansão do nosso ego supérfluo, a psique humana está a ser influenciado pela acção não real ou ficcional o que leva a que as expressões de arte contemporâneas sejam incompreendidas ou rejeitadas pelas massas. De facto, realça Melo que a apreciação das artes nasceu de um fenómeno puramente elitista, intelectual e na mão de muito poucos. Talvez até hoje em dia, quem sabe, o mundo das artes é controlado por algumas famílias abastadas daí que por vezes, o artista na ribalta pode não ter talento mas devido ao cunho do mais forte, faz um nome para si mesmo. Exemplos foram o apoio da família Medeci, Florença a Leonardo da Vinci, Donatello, Leonardo, Rafael e outros. Nesta toada, Melo critica as forças económicas de se imiscuírem no mundo da arte “pura”, onde por vezes o artista sofre para satisfazer os requisitos, tanto de um curador como de um mercado.
De seguida, Melo continua deambulando em linhas intelectuais e com bastante acutilância, realçando que a natureza humana foi moldada pelas manifestações de arte provenientes das gravuras rupestres, concluindo que a arte influencia as sociedades. O exemplo Angolano discutido foi o Kuduro, que proveniente dos batuques dos nossos antepassados ocupa um lugar fundamental na nossa sociedade como meio de veiculação do pensamento popular. Daí que, por vezes, devido o teor da sua mensagem, o poder politico impõe represálias ou providencia incentivos ao silencio destes músicos, atestando o grande poder das artes na expressão societal.
Já no final, o nosso convidado falou de técnicas de pintura e alguns termos técnicos mais específicos, tal como a tela, os utensílios de pintura, as bases de tinta, acrílico, aguarela, entre outros. Devido ao elevado interesse da discussão, entre inúmeras perguntas e alguns comentários mais cálidos, esta prolongou-se até as 17:30. De realce, o papel da regenerada União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP) em regenerar a indústria das artes plásticas no nosso país através da implementação de workshops, porem devido á natureza do trabalho e ao patamar desenvolvimentista, o artista acredita de que existem outras prioridades.