Benfica é um dos mais novos bairros de Luanda. Está localizado a Sul da cidade e é uma comuna da Samba. Alguém se apropriou do nome de outro “Benfica”, este na estrada do Cacuaco, onde nasce refinaria .
. O bairro surgiu com as primeiras construções urbanizadas erguidas pela Brigada de Construção Militar (BRICOMIL). No início estava “tudo no lugar”. Mas rapidamente surgiram as ocupações ilegais e a urbanização desapareceu no caos. Em poucos anos a pressão humana, sem regras, destruiu aquilo que parecia ser uma zona de crescimento da cidade, moderna e com o território ordenado.
A empresa Transporte Colectivo Urbano de Luanda (TCUL) abriu uma linha para o bairro mas os “benfiquistas” consideram que a cidade fica demasiado longe. Como há cada vez mais habitantes, os transportes públicos são sempre deficientes.
Na zona de Benfica nasceram as urbanizações de Talatona, que levaram ao crescimento da população mas também ao nascimento de equipamentos sociais importantes, como hospitais, universidades, centros comerciais e empresas de serviços. As construções anárquicas e sem as mínimas condições vão aparecendo timidamente ao lado dos condomínios de luxo, mas por enquanto ainda não é grave.
A reportagem do Jornal de Angola foi ouvir os moradores dos bairros improvisados onde reina o caos. Quase todos construíram em terrenos que são do Estado, logo de todos nós. Com umas chapas de zinco, adobes ou tábuas, o que é de todos rapidamente passa a ser de um ocupante, que depois exige uma casa de verdade para abandonar o local. Este é um dos negócios mais rentáveis de Luanda e é comandado por pessoas e organizações que se fazem passar por beneméritos dos pobres.
“Estamos a passar mal porque não há fornecimento de energia eléctrica pública nem de água potável. Aqui cada um tem o seu pequeno gerador ou não tem luz. A água compramos nas cisternas”, disse Samuel Cristóvão, morador no bairro há cinco anos.
Mas o bairro é democrático. As barracas dos “pobres” e as mansões têm os mesmos problemas. Grandes casas, construí das sem projecto, sem licença e sem título de propriedade do terreno, recebem energia dos geradores e compram água em cisterna.
Cada de Sousa vive no bairro Benfica há cinco anos. “No início tínhamos aqui uma vida muito calma mas ultimamente o bairro está a crescer desordenadamente”.
Reconhece que a falta de água e energia é um problema sério para todos os moradores, mesmo os que vivem em casas legais. Mas tem esperança: “mais cedo do que tarde a Administração Municipal da Samba vai servir os moradores desta área. Quanto ao transporte já passamos mal, agora é assim-assim”.
Outros moradores no bairro Benfica, como António Cruz e Vanda Filomena Miguel, reconhecem que os transportes públicos são agora mais eficazes.
Posto de Saúde
O bairro Benfica tem um único posto de saúde público. Presta assistência diariamente a mais de 200 pacientes, em várias especialidades. Pedro Viegas é o administrador do posto. Disse à nossa reportagem que “temos apenas três médicos e 34 enfermeiros”.
A única escola pública do primeiro ciclo do ensino secundário é manifestamente insuficiente para a população estudantil do bairro. O director da escola 1.008, João José Helena, reconheceu que “as constantes falhas de energia eléctrica no bairro Benfica têm afectado o cumprimento do programa previsto pelo Ministério da Educação aos alunos do período nocturno”.
João Helena diz que o ensino q nocturno depende de um gerador J, que até hoje nunca apareceu. Mas não é só a falta de gerador p que atrapalha o funcionamento da v escola pública número 1.008. Si
“Como uma desgraça nunca vem só, a escola, que tem 12 salas com x, capacidade para albergar 50 alunos CI nos dois períodos, debateu-se no ano lectivo passado com falta de professores Língua Portuguesa e Educação Física. Este ano, estamos a contar suprir essas faltas”.
Mercado do artesanato
o maior mercado de artesanato de Luanda está localizado na comuna de Benfica. É um ponto de referência na cidade. Diariamente ocorrem ali centenas de clientes para comprar artesanato.
Quando Luanda recebe uma actividade internacional, os guias turísticos dos hotéis conduzem os visitantes ao mercado.
Gaby do Bate Pau, um artesão que faz esculturas em madeira diz que “ultimamente temos todos os dias em Luanda encontros internacionais e o mercado está sempre cheio de turistas, o negócio está a correr bem”. Mas o mercado não tem as mínimas condições, faltam infra-estruturas de apoio, há locais que vendem comida ao lado do lixo e nem sequer existem instalações sanitárias.
Cassuli André é um artesão natural da província do Uíge. Chegou a Luanda em 1997 e foi trabalhar para o mercado. Para Cassuli, “a arte não tem um preço fixo. Cada um fi~aopreço”.
Segurança melhorada
Uma fonte da Esquadra de Benfica esclareceu à nossa reportagem que devido ao crescimento do bairro se têm registado vários crimes, principalmente furto de material de construção em obras. A esquadra, que mudou para a Avenida 21 de Janeiro há dois meses, tem afugentado muitos delinquentes, principalmente aqueles que praticavam violações, roubo de viaturas e assaltos à mão armada.
“Ainda recebemos muitas queixas devido ao crescimento populacional do bairro mas não são casos alarmantes.