A cena mais horripilante aconteceu na última semana do mês findo, nas imediações do posto de venda da Nocal, concretamente na rua Nossa Senhora de Fátima, onde marginais altamente perigosos, munidos de armas de fogo, dentre pistolas e metralhadoras fizeram-se à rua, assaltando pacatos cidadãos e cantinas de oeste -africanos, sem pejo algum.
Marcolino Viegas, morador daquela zona da comuna do Hoji-ya-Henda, fez saber que os meliantes, naquela manhã, não hesitaram em fazer disparos na rua, amedrontando quem quisesse intervir, ou frustrar as suas acções».
«Como prova disso, quando tinham acabado de assaltar uma cantina, alguns agentes da Polícia aperceberam-se da situação e tentaram intervir. Ali começou a troca de tiros entre os marginais e os agentes, onde um dos polícias foi alvejado na perna com um tiro. Um dos marginais, mais conhecido por «AM», foi morto quando tentava dar cobertura aos seus amigos», explicou, sublinhando que era uma cena nunca antes vista por ele, pois, o marginal, pelo que apurou o A Capital, naquelas bandas era considerado o líder dos grupos «Bula Squad» e «Bibi Remitentes». Na ocasião, estava munido de duas armas do tipo AKM e mandava os seus comparsas retirarem-se enquanto ele, como se fosse o «Rambo», recuava e ripostava contra os agentes.
«Na sua fuga desenfreada, entrou no quarto de banho de uma casa e foi lá onde os agentes aproveitaram para fazer a limpeza geral. Como ele não parava de disparar, a solução foi pagar pela mesma moeda, também dispararam contra ele e acabou por morrer ali mesmo.
Viegas referiu que, para amenizar a situação, foi colocada no local uma esquadra móvel. «Nos últimos dias, a situação ainda está calma», notou, referindo por outro lado que as acções de patrulhamento devem ser constantes, «sendo esta área uma zona que faz fronteira com o Sambizanga e por este facto muitos marginais daquele município vêm fazer as suas acções aqui».
«Por outro lado, os agentes sabem que aqui, principalmente nas zonas do Kayaya, Cerâmica, Linha Fêrrea, Cabine Eléctrica e dos Bares há muita bandidagem, mas eles não conseguem actuar porque ali tem muitos becos e os bandidos andam mesmo armados a qualquer hora do dia, sem medo de ninguém. Até os próprios vizinhos não são poupados. Então, uma esquadra móvel, por si só, não irá resolver o problema da criminalidade aqui, mas as rondas e patrulhamentos constantes nas áreas mais criticas do bairro vão ajudar a combater este mal que vai aumentando de intensidade a cada dia que passa».
Mariana Gonçalves, moradora, contou outra cena algo arrepiante. Ao que tudo indica, tratou-se de um episódio anterior à troca de tiros protagonizada pelos marginais e os agentes da Policia muito recentemente. Esta cidadã contou que, alguns dias antes dos tiroteios, os grupos marginais «Bula Squad» e «Bibi Remitente» interceptaram um carro patrulha da Polícia que transportava detidos e nada mais fizeram senão soltar os algozes.
«Eles estavam armados e renderam os agentes que estavam no carro, mandaram-nos descer, ameaçaram-nos e lhes mandaram beber água parada, depois dos bandidos soltarem os presos que estavam no carro dos polícias> explicou, sublinhando que os agentes saíram dali entristecidos e furiosos, mas com o pensamento de que haviam perdido a batalha mas não a guerra.
«Porque alguns dias depois foi quando houve a troca de tiros entre a Polícia e os marginais. Então, acho que esta foi a resposta dos agentes aos bandidos», sublinhou, referindo que no dia dos tiroteios o bairro viveu um autêntico alvoroço. «As pessoas corriam de um lado para o outro no sentido de se abrigarem e não acabarem por ser vitimas de uma bala perdida».
«Mas valeu a pena, porque durante esses dias a situação melhorou um pouco, embora ainda alguns jovens não aprenderam a lição e continuam a mexer. Mas com rondas frequentes a coisa vai melhorar.
A criminalidade no Cazenga parece que não fica apenas pelos grupos marginais. A violação, os roubos, furtos e até mesmo os homicídios voluntários, involuntários e frustrados vão tomando corpo neste que é o município mais populoso da capital do país. Por exemplo, na semana de 17 a 23 de Janeiro, no caso, a penúltima do mês, a Polícia procedeu a detenção de dois violadores e de um homicida.
Segundo apurou a nossa equipa, o homicida matou a sua própria esposa no período da manhã depois de a ter agredido, deixando-a trancada em casa.
De tarde simulou tê-la encontrado já morta.
Evânio Domingos, 25 anos, e um dos violadores detidos pelos agentes policiais da divisão do Cazenga.
Ele, justificando a sua acção, disse ter sido chamado pelo amigo para o socorrer de uma avaria
No automóvel. Quando chegou ao local combinado, conforme contou, constatou não se tratar de avaria alguma, mas de um convite para fazer sexo com uma jovem que o amigo disse ser sua namorada.
«O meu amigo chama-se Gildo e é mais conhecido por «JD. Ele é taxista”, foi assim que começou por descrever o amigo que o deixou em «maus lençóis»” para mais adiante dizer: «Quando cheguei no sítio onde ele disse que o carro estava avariado, ele me explicou que não tinha nenhum problema e que queria que eu fizesse sexo com a moça que estava com ele no carro, alegando que era sua namorada e que ela estava a se comportar mal com ele”.
«Disse mesmo que ela estava a lhe dar muita dor de cabeça e que antes de mim ele já havia feito sexo com ela, por isso, queria que eu também fizesse», contou, referindo que a jovem estava ali ao lado a ouvir a conversa e não reclamou.
«Ela estava apenas a mexer no telefone e só falou para fazermos rápido porque tinha alguém a espera dela, já que o telefone estava constantemente a tocar».
Evânio acabou detido depois de uma queixa da lesada e agora vê o sol pela pequena janela da cela em que se encontra naquela divisão de Policia, aguardando que o seu amigo apareça, pois, segundo contou, o mesmo deu o «pé na sola».
Alegações da polícia
Para o superintendente Clemente Miguel Pontes, 2º comandante da Divisão do Cazenga, o seu organismo está a envidar todos os esforços atinentes à melhoria da situação criminal do município. Em face disso, já têm inclusive dados das áreas mais preocupantes, «nomeadamente, a área dos Três presidentes, Papá Kitoko ou aviários, como também é chamada e a zona do AngolanoVala”.
«Mas já se está a tomar medidas com a colocação de patrulhas auto e apeadas para se pôr cobro à situação”, explicou, para mais adiante sublinhar que os casos mais graves registados foram duas violações numa das áreas apontadas como preocupantes, no caso, a dos três presidentes bem como a situação do marido que espancou a mulher até a morte.
« Outra zona que também era preocupante é da área da Nocal, ali no posto de venda. Mas depois da acção que culminou com a morte de um marginal durante uma troca de tiros com os nossos agentes da ordem que se aperceberam da acção levada a cabo pelos meliantes, a situação já melhorou substancialmente. Contudo, ainda não estamos satisfeitos, por este facto, continua o patrulhamento da área arredores para se repor a tranquilidade pública».