A administração comunal da Ilha do Cabo, liderada por Cyrus da Mata decretou recentemente o encerramento e a desocupação dos estabelecimentos e locais de vendas entre o Farol Velho (ex escola de hotelaria) e o ponto final, tendo como delimitações a avenida Murtala Mohamed e a Baía de Luanda.
De acordo com a ordem do governo provincial de Luanda (Gpl), os estabelecimentos e locais de venda funcionaram apenas até ao dia 25 deste mês, não dando espaço suficiente para realizar o balanço e vender os produtos adquiridos.
Segundo uma nota de 13 de Dezembro último, a área seria vedada ao público e a todo o tipo de utilização que não estivesse relacionado com o plano de requalificação da Ilha de Luanda, mas não aconteceu em tempo real por falta de ordens da administração municipal.
Há muito que se tem vindo a desalojar as pessoas sem beneficiar da devida indemnização ou espaço equivalente. No local é grande o descontentamento dos proprietários e funcionários destes espaços de venda e lazer pelo facto da requalificação não constituir o problema.
“Se o Executivo quer realmente melhoria de condições de atendimento ao público que nos dessem um plano padrão para comercializar produtos nestes locais, caso contrário em nada esta requalificação veio para ajudar”, desabafou uma gerente sobre o encerramento dos estabelecimentos sob anonimato.
“Se o espaço será reservado para área de lazer que dessem oportunidade as pessoas que já convivem neste ramo há muito tempo para o fazer”.
Com mais de 34 trabalhadores e nove anos de prestação de serviço, a esplanada. Palhota não tem qualquer hipótese de voltar a empregá-los. “Não me responsabilizarei pelo desemprego destas pessoas, mesmo reconhecendo o tempo em que estão na empresa”, disse o chefe José Monteiro.
Por outro lado, o empresário Joaquim Fernandes “Quim Zé”, discorda da maneira como está a decorrer este processo, sustentando que para a reabilitação do espaço que ocupa gastou mais de 100 mil dólares há um ano. “O meu restaurante deveria ser inaugurado no dia da Baixa de Cassange, a 4 deste mês, mas não foi possível porque uma semana antes recebemos um comunicado que nos reservava apenas 15 dias para nos retirarmos deste local”, contou, questionando também o local onde colocaria os produtos e móveis.
“As reservas alimentares que se encontram nos armazéns como serão comercializados, se a única maneira é através da confecção de alimentos”, reforçou Quim-Zé”.
O empresário, que é proprietário dos restaurantes Djombo I e Il no Kilamba-Kiaxi, alertou ainda o Gpl no sentido de ter mais de sensibilidade e atenção com o tratamento dessas questões, olhando para os projectos já existentes no local e o número de pessoas que ficarão na rua.
Para um outro proprietário de uma esplanada, a maneira como estão a ser” corridos” não bate certo, uma vez que muitos ainda não conseguiram arrecadar lucros suficientes para compensar os investimentos.
“Eu creio que já existe o despacho nº 001/2010, em acta, logo o documento é ilegal sem o conhecimento das autoridades competente” disse o interlocutor, asseverando que nunca receberam qualquer notificação do Gpl.
“São mais de 32 restaurantes e pensões, logo deve haver uma negociação com as autoridade para as respectivas indemnizações e um novo local para nos instalar”, concluiu.
A medida não está a ser bem vista não só pelos proprietários dos restaurantes como também pelos clientes assíduos. Paulo Sebastião, que aproveita a hora de almoço para descontrair num ambiente acolhedor a que estava habituado, sentiu-se constrangido com o precipitado rumo dos acontecimentos.
Um jovem identificado apenas por Dvd, lavador de carros, disse que a com saída dos vendedores e posterior encerramento das esplanadas corre o risco de mudar de área onde chegava a arrecadar diariamente, mais de 4 mil kwanzas. “Todos os clientes que prestávamos serviços visitavam o local para um almoço, mas com este cenário que estamos a viver, já não estão a parar, até estão admirados ao ver o espaço tão livre”, contou.
Mais de 800 desempregados. A comissão de esplanadas do ponto final, reunida de emergência, para tornar conhecimento do despacho nrº001/2010 sobre o encerramento dos estabelecimentos, a pretexto de requalificação da Ilha, manifestou-se indignada e estupefacta, pois viram lesados os seus interesses iniciados há mais de15 anos com esforço e sacrifício.
O coordenador da comissão disse, na altura da apresentação do projecto da requalificação da ilha, que a ex-governadora Francisca do Espírito Santo garantiu que os trabalhos não afectariam as estruturas existentes.
“Este reordenamento colocará na rua mais de 800 trabalhadores que encontravam neste local o seu sustento. Quem irá pagar os investimentos feitos?”, interrogou-se Justo Capitão, revelando que as mais de quatro audiências solicitadas ao administrador comunal não surtiram efeitos, pois mostrava-se indisponível em recebê-los para um encontro de esclarecimento.
Conta-se ainda que este é o primeiro despacho de 2010 assinado pelo administrador comunal da Ilha do Cabo, Cyrus Cordeiro da Mata.
Os proprietários dos estabelecimentos solicitam ao Governo a protecção dos seus investimentos na zona, correndo sérios riscos dos mesmos serem destruídos por ambição de certas pessoas à custa do sofrimento dos outros.
Sou o único angolano no sector
Quim Zé”, 59 anos, dos quais 47 de hotelaria, considera-se como único angolano no sector a prestar Serviço de turismo, hotelaria, e bar , tendo participado no restauro de várias unidades hoteleiras da capital como o Djombo I como referência no país depois de apenas sete anos e independência, reparando igualmente há 10 anos uma unidade com capital próprio de onde tempos depois foi expulso sem qualquer indemnização.
Enveredou por este mundo aos 12 anos (anos 70), tendo começado como criado, servindo mesas. Já teve várias profissões mas esta foi a que deixou mais marcas na vida e fá-la com muito amor e paixão.
Proprietário do Djombo I, no Kilamba-Kiaxi e do Djombo II alugado, restaurou o restaurante Marginal onde diz ter gasto todo o dinheiro ganho em cinco anos de trabalho.