O refrão popular “antes tarde do que nunca”, também comum nos corredores católicos, parece ter baixado aos corações de alguns importantes pastores da mais antiga congregação religiosa do mundo: a igreja Católica, depois de no 16, o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), arcebispo Gabriel Mbilingui, reconhecer, graças a Deus, que “a pobreza, a exclusão social e a precariedade que daí resulta para as nossas populações, agravadas pela crise económico-financeira, fazem sentir cada vez mais o seu peso sobre a vida dos nossos povos e das nossas populações”, reconheceu um dos mais jovens bispos, apontado como reformador e pastor comprometido, exclusivamente, com o evangelho, segundo a doutrina da Igreja Católica, na abertura da primeira Assembleia Ordinária da CEAST, que decorrerá até 23 de Março, tendo como tema central questões matrimoniais, numa abordagem sobre os seus aspectos jurídicos e pastorais. O também arcebispo do Lubango, tem sido um dos mais críticos sobre a política governamental do esbulho violento de terras e a expulsão das suas terras dos autóctones pobres, por parte do governo, com especial destaque na zona do seu magistério, na Huíla.
A alocução de Dom Mbilingue, passou em revista outros aspectos importantes da vida da Igreja Católica, mas este ponto, seguramente, não deixará de marcar o rumos dos acontecimentos do conclave, uma vez, até aqui, terem sido dúbias muitas posições públicas da CEAST, sobre a crise, que leva a uma espiral de insatisfação das populações no geral, face as políticas governamentais, que cada dia produzem milhares de pobres e indigentes.
O arcebispo não deixou de passar em revista a uma natureza dolorosa, como as chuvas que no país têm vitimado centenas de populares, por falta de recursos e da força das enxurradas, bem como o terramoto do Japão, que terá vitimado até ao momento mais de 20 mil pessoas, o desaparecimento do mapa de uma cidade inteira e o rebentamento de quatro centrais nucleares, ameaçando milhares de pessoas com o risco de contaminação radioactiva. “Estaremos unidos e rezaremos pelas vítimas dos diversos desastres naturais, fazendo apelo à solidariedade”. Por outro lado, anunciou para depois do final da I Assembleia Ordinária da CEAST, entre 23 a 25 de Março, a realização de uma conferência internacional, denominada “Construindo a paz em Angola”, uma organização da Caritas, cujo objectivo é dar “mais um contributo” da igreja Católica a Reconciliação Nacional, a consolidação da paz e da democracia, tão frágeis e importantes instrumentos nesta fase de transição que Angola vive. Espera-se que sejam convidadas para o efeito pessoas dos variados quadrantes capazes de contribuírem nos diferentes painéis com opiniões e contribuições válidas para a estabilidade e futuro do país.
A situação de pobreza e de saturação das pessoas deve, também, ser analisada pelos bispos, neste encontro da CEAST, de forma, religiosamente, coerente e despolitizada, por ser isso que está na origem da insatisfação e alguma deserção no seio do nosso povo e as levam a querer manifestar-se contra o governo, exigindo uma mudança radical na sua política de cobrar sempre sacrifícios aos pobres, deixando os poucos ricos engordarem, todos os dias, com o sofrimento dos milhões”, disse ao F8, o padre Paulo, que pratica o magistério no norte de Angola. “E dolorosos o abandono do Governo as populações no interior, dando a sensação de haver duas Angola, muito devido ao facto do senhor Presidente da República, engenheiro José Eduardo dos Santos, não governar nas províncias. Vir, ficar aqui, um, três ou quatro dias, percorrer os caminhos, as sanzalas e as lavras do povo, ver e sentir como as pessoas que ele dirige à 32 anos vivem e respiram, analisar o seu sofrimento, para ver se consentâneo com as riquezas do país que preside e não se fiar sempre nos relatórios, que lhe mandam, para Luanda, na maioria das vezes distantes da realidade”.
O padre reconheceu ser importante uma análise sobre a vida da igreja em Angola e São Tomé, desde a II Plenária, realizada em Outubro de 2010, mas “isso não significa nada, se continuarmos a calar-nos e aceitar que alguns padres no nosso seio, venham publicamente, tapar o sol com a peneira, lançando a descrença sobre toda a estrutura da Igreja, quando cada ovelha quando sai da nossa casa, encontra uma dura realidade, que a maioria dos próprios padres não pode ser alheia. Por esta razão não podemos, enquanto pastores, fingir que não vemos o sofrimento do nosso rebanho e com este silêncio, que passa a ser considerado cúmplice, nos deliciamos com a vida faustosa e milionária de uns poucos dirigentes, cuja riqueza nem é fruto do seu trabalho, mas da expropriação dos bens e dinheiro públicos”, denunciou o padre Paulo.
Por outro lado, não deixou de dar o seu voto de confiança ao presidente da CEAST, “como um bispo dinâmico e competente, mas ainda rodeado de conservadores, que estão a ser responsáveis pela fuga de muitos fiéis. Devemos analisar com profundidade e sem complexos a situação em Cabinda, deixando de sermos indiferentes e termos a coragem de reconhecer a necessidade de se apoiar mais a política do Bispo Filomeno Viera Dias, pois não está a fazer bem a igreja pelo contrário tem estado a afastar fiéis e isso é grave e deve merecer uma analise profunda, pois a cultura da igreja é discutir até a exaustão os problemas internos. Em relação a Cabinda adoptou-se uma estratégia diferente, que veio conotada com a do Governo, pois tivemos, padres presos de forma muito estranha, por esta razão muitas pessoas que viam como uma alternativa, mesmo a mediação, hoje desconfiam de toda estrutura, em função da emoção de poucos, que não se contém em situações delicadas, como recomenda o Vaticano e o próprio Papa Bento XYI”, concluiu.