Há cinco anos, Nelson Domingos Luamba, mais conhecido por Laton, era um dos vendedores ambulantes que fugiam dos fiscais e da policia económica que andavam atrás dos “miúdos” que faziam negócios junto ao antigo prédio da empresa de telecomunicações Angola Telecom, localizado no Largo das Heroínas.
Ele recorda com tristeza que cada dia de trabalho era uma batalha árdua que colocava em lados opostos os representantes da ordem e da legalidade, os fiscais do Governo Provincial de Luanda (GPL), e os jovens desempregados que encontravam no negocio informal a única fonte de rendimento honesto para a sua sobrevivência. Eram, na sua maioria, jovens provenientes dos bairros periféricos da cidade de Luanda, que, às centenas, se concentravam no famoso edifício Telecom, para fecharem negócios de varias natureza, sobretudo a venda de telemóveis e respectivos acessórios, com o objectivo de, no final do dia, garantirem o seu sustento.
Hoje, Nelson Luamba, 30 anos, já não foge aos fiscais pois conseguiu estabelecer-se no mercado formal, depois de alguns anos a poupar e a investir as economias que conseguia resultantes da venda ambulante. Agora é sócio – gerente de uma filial da empresa Kala Nguifua & Filhos, Lda, na qual emprega nove trabalhadores. Ele é visto como um exemplo para milhares de vendedores ambulantes que circulam pelas artérias da cidade capital em busca de oportunidades. O jovem é considerado por muitos um empreendedor nato, bastante conhecido e respeitado no segmento de mercado em que actua: a importação e venda de viaturas e todo tio de acessórios.
Em entrevista ao JE ele contou a sua história e afirmou que para atingir este modesto mas significativo status de empreendedor teve. de sofrer muito e trabalhar arduamente. “paixão e muita fé naquilo que faço são factores que me têm ajudado a conseguir concretizar os meus objectivos”, revelou.
Início nos negócios
Nelson Luamba teve uma infância difícil e, aos cinco anos, passou a residir em Luanda, vindo da província de Malanje o seu pai se havia separado da mãe e, desde então, passou a viver com a madrasta.
Devido aos maus-tratos de que era vítima, muito cedo se viu na obrigação de arranjar uma forma de conseguir, por meios próprios, recursos financeiros e materiais para sobreviver. “A minha madrasta me maltratava”, lembra Nelson Luamba, com os olhos húmidos de lágrimas contidas.
“Eu não recebia o mesmo tratamento que os meus irmãos. O meu pai era muito submisso às atitudes da minha madrasta. Por isso, não tive oportunidade de estudar e tive de começar a trabalhar muito cedo para me sustentar e comprar as coisas que precisava, como roupa e calçado”
Tal como muito jovens vítimas de violência doméstica, ainda pequeno começou a lavar louça no. Antigo mercado paralelo da Calemba, na década de 90. Depois, passou a lavador de carros, revendedor de cosméticos e outros biscates, até conseguir amealhar algum dinheiro e iniciar um micro – negocio.
Investiu as suas poupanças na compra e revenda de bens de primeira necessidade, como sabonete, pepsodente e outras mercadorias, que vendia, inicialmente, nos mercados do Congoleses e Correios, no Golfe, e depois, nas ruas do centro da cidade de Luanda.
Com muitos altos e baixos no meio do percurso, foi adquirindo experiência e começou a procurar um nicho de mercado promissor, onde se pudesse fixar e prosperar, dedicando-se de corpo e alma. Foi nessa altura que surge a febre dos telemóveis impulsionada pela empresa estatal Angola Telecom.
Primeiro investimento
Nelson Luamba foi um dos pioneiros na venda de telemóveis no edifício da Angola Telecom. Inicialmente, exercia a função de revendedor de fornecedores que importam os telemóveis de países como Brasil, EUA, China e Europa.
Depois de ganhar a confiança dos fornecedores, passou a ser um deles. Esta ascensão permitiu-lhe aumentar a sua rede de clientes e revendedores, o que implicou no aumento dos seus rendimentos.
Em 2005, depois de alguns anos de muito trabalho, desfez-se da dependência dos fornecedores locais após conseguir poupar dinheiro para a compra de um bilhete de viagem para o Dubai (Emirados Arabe Unidos) e mais dois mil dólares para investir na compra de mercadorias diversas, (telemóveis, computadores portáteis e câmaras digitais que eram uma autêntica novidade na altura).
Com a experiência da primeira viagem aos Emirados Árabes Unidos, concretamente em Dubai, e o sucesso das vendas, passou a ser o fornecedor único da sua vasta rede de clientes.
A partir daí, descobriu o nicho de mercado que procurava: a venda de viatura e acessórios. Os preços dos automóveis eram bastante competitivos se comparados com os preços em Angola, e davam uma boa margem de lucros.
“Na viagem seguinte, comprei uma viatura Mitsubishi L200 por 16 mil dólares no Dubai e a revendi por 28 mil em Luanda. A partir daí, comecei a dedicar, me apenas a este negócio”, lembra Nelson Luamba, que, actualmente, possui um volume de negócios avaliado em 70 mil dólares.
Metas a concretizar
Questionado sobre as suas ambições e metas, o entrevistado anunciou que investiu, recentemente, 25 mil dólares na compra de um terreno na rua Ngola Mbandi, nos arredores da Calemba, e está a trabalhar com o objectivo de aplicar mais de 200 mil dólares na construção de um estabelecimento próprio, que vai dispor de um escritório, stand para venda de automóveis acessórios, e manutenção.
“Neste momento, estamos a trabalhar numa loja arrendada, mas, até Agosto deste ano, pretendo iniciar a construção de raiz do nosso estabelecimento”, finalizou.