Segundo documentos, a que o AGORA teve acesso, em vez do dinheiro acumulado em cada semana ser depositado na administração municipal do Kilamba Kiaxi, os responsáveis do mercado, Miguel Francisco Neto e o seu adjunto Alberto Avelino, têm sido apontados como implicados no seu descaminho, além de receberem valores dos “matondelos”, dos estrangeiros.
Um grupo de fiscais alega que as cobranças são feitas por elementos não credenciados pela administração municipal constituindo num claro atropelo às regras estabeleci das pelo governo provincial de Luanda (Gpl).
Os administradores estão a fazer do mercado propriedade privada, o que deve ser travado o mais rápido possível”, defenderam, sublinhando que “além das pracinhas existentes um pouco por todo o município, o dos Correios é o que mais rende aos cofres da administração”.
Entre terça a sexta-feira a mercadao pode arrecadar receitas acima dos 280 mil kwanzas que, no entanto, nem sempre “caem” na conta do Gpl. “É muito dinheiro que tem sido arrecadado. Queremos que os moldes do seu depósito sejam revistos. É necessário também que o novo governador e a fiscalização estudem novos moldes de actuação de todos os administradores e cobradores”, sugeriram as fontes do AGORA. Além do descaminho do dinheiro, referem-se também ao facto dos administradores estarem a mudar “arbitrariamente” de fiscais por elementos da sua confiança, incluindo familiares e amigos.
Apontam os casos de Deotoso da Fonseca, Faustino João António e Joaquim, tidos como fiéis cobradores, sem o prévio conhecimento da administração que responde pelos mercados.
“Estão a substituir os fiscais por pessoas que nada têm a ver com o GPL. É um atropelo na medida em que temos em mãos mapas de produção dos mercados I dos Correios e Golfe 2. Somos funcionários do governo provincial vinculados ao departamento de mercados e feiras e antes de sermos movimentados esta estrutura deve ser ouvida”, notaram as mesmas fontes, alertando para a ilegalidade em que estão a incorrer os administradores.
O surgimento de armazéns de produtos alimentares e stands onde se comercializa todo tipo de peças tem contribuído para a já na débil relação entre vendedores e a direcção.
Mário Lourenço, vendedor de molas de carros, disse que tanto os fiscais como administradores são responsáveis pelo conflito que se regista no mercado.
“Pago sempre aos fiscais e não se vislumbra melhoria em termos de saneamento básico. Vendemos e convivemos com lixo”, enfatizou.
Sobre as vendas, lamentou o facto de antigos clientes passarem a preferir comprar peças dos malianos, senegalenses e nigerianos por serem mais baratas.
“Os estrangeiros têm direito à protecção da Polícia, porque pagam entre 900 a 1.500 dólares o lugar e gostaria de saber qual é o trabalho de um administrador do mercado?”, interrogou-se.
O chefe dos mercados da administração municipal, Adão Domingos Cabaça refutou as acusações dos fiscais. “Não têm fundamento as reclamações destes funcionários.
Qualquer fiscal cobrador pode ser transferido para outro mercado do município”.
Segundo cálculos feitos e baseados nos mapas de controlo, durante 12 meses a administração do mercado dos Correios terá arrecadado 336 milhões de kwanzas só em taxas diárias.
Contactado para se pronunciar sobre o assunto, Avelino Alberto disse que não está autorizado a dar entrevistas sem ordens superiores.
“Não estou autorizados a falar sobre o caso, se o fizer posso ser preso por desobediência” disse.
Nos principais pequenos e grandes mercados da capital movimentam-se altos valores com destaque para o antigo Roque Santeiro (Panguila), Correios, Asa Branca, Kicolo, S.Paul0, PangaPanga e Trapalhões. Segundo apurámos as taxas em outros mercados de Luanda, além dos vendedores, também são cobradas a transportadores de carga, estacionamento de viaturas, energia eléctrica, serviços de limpeza e acesso a casas de banho e latrinas.
Diante desta situação os comerciantes pedem que se regularize o saneamento e ordenamento das bancadas.
Recorde-se que ex-governadora de Lunada, Francisca do Espírito Santo, na altura tinha garantido num encontro no salão nobre do Glp, que desconhecia o destino do dinheiro taxados em mercados, feiras e festas públicas, na capital do país. O novo governador tem, pois a batata quente em mãos .