O acesso ao crédito por parte das famílias angolanas deve ser visto como um instrumento primordial no combate à pobreza e ao relançamento da capacidade interna de geração de riqueza.
Por esta razão, os bancos que operam no segmento comercial do sistema financeiro devem criar produtos e serviços atractivos e, ao mesmo tempo, facilitadores da introdução de novos agregados no sistema bancário nacional.
Esta posição foi defendida pelo economista sénior do Banco Mundial (BM) para Angola e Moçambique, Ricardo Gazel, durante o seu habitual encontro de análise sobre a evolução da economia angolana que mantém com especialistas, agentes financeiros e outros parceiros nacionais e internacionais.
Citando experiências de outros mercados, alguns dos quais com características muito semelhantes ao caso angolano, sugeriu a criação de mais bancos que atendam e financiem as pequenas actividades, seja de grupos, cooperativas ou pessoas individuais.
“0 Micro-crédito e o fomento aos pequenos negócios é preponderante para a criação de emprego, riqueza e auto-sustento por parte das famílias, sobretudo aquelas que gozam de baixos rendimentos”, disse.
Contudo, o ajustamento das taxas de juro torna-se de todo indispensável para que se aumentem os níveis de empréstimo, sem que se endividem os principais beneficiários destes programas.
Ricardo Gazel defende que o crescimento económico na dimensão desejada está dependente da capacidade e da disposição de se emprestar moeda por parte da banca comercial. Logo, é de todo importante que o Governo e os operadores financeiros estudem os mecanismos de protecção da actividade bancária, mas que estimulem a abertura de novos negócios e a bancarização da população.
Segundo ele, a capacidade dos bancos de emprestarem dinheiro tem reflexo directo na retoma das iniciativas de negócios, sobretudo dos investidores nacionais que precisam ser capitalizados e, deste modo, participarem nos programas de criação de postos de trabalho, combate a fome e à pobreza, além da captação de outros eventuais parceiros.
Poucos bancos
Um dos grandes constrangimentos que o mercado angolano vive é o da existência de poucos bancos especializados na actividade de concessão de micro-crédito às famílias. Na sua maioria, elegem o crédito ao investimento e outras formas de empréstimo como o suporte principal da sua actividade, deixando de estimular uma área de grande potencial, como são os casos das famílias de baixa e média renda.
Actuam no mercado angolano dois bancos especializados na actividade de concessão de micro-crédito, designadamente o Banco Sol e o BAI-Micro-finanças. Contudo, os bancos de Poupança e Crédito (BPC) e Comércio e Indústria (BCI) criaram na sua estrutura segmentos especializados para atender a esta actividade específica. Daí que estes bancos estejam também integrados no programa de fomento agrícola criado pelo Governo, através do Banco de Desenvolvimento de Angola (BOA), e que contempla um valor global de 120 milhões de dólares para apoiar as associações de camponeses em todo o país.